A flexibilidade na natureza como metáfora da flexibilidade mental

A flexibilidade mental como uma soft skill para o dia a dia

O poder da flexibilidade mental no dia a dia

Soft skills são competências que poderão não estar ligadas à nossa formação académica, mas que são essenciais para cumprirmos positivamente exigências pessoais e profissionais. Neste sentido, a flexibilidade mental pode ser encarada como uma soft skill para sobreviver ao quotidiano.

Falar em “sobrevivência” no dia a dia pode parecer exagerado, mas a verdade é que não são raras as vezes em que a vida assume a dimensão de uma guerra de batalhas diárias.

Lutamos todos os dias contra o tempo, contra a doença, contra o fracasso, contra a desilusão… Para ganhar o amor, depois para não o perder. Lutamos para ter filhos, depois para os proteger e educar. Temos que conquistar o emprego desejado, depois de o manter… Neste sentido, a flexibilidade mental e física dá-nos o poder de travar estas batalhas diárias sem que esgotemos as nossas energias.

Soft skill mental – a flexibilidade

A flexibilidade mental é uma das habilidades comportamentais (ou soft skills) que considero mais úteis para sobreviver ao quotidiano.

Estamos constantemente a tomar decisões, condicionadas pelo conhecimento que detemos em cada momento e pelas circunstâncias pessoais e profissionais que nos limitam as opções. Esta realidade em que vivemos cria um ambiente quase hostil, sobretudo nos grandes centros urbanos. Assim, a capacidade de adaptação – flexibilidade – é crucial para preservar a integridade do nosso “Eu” enquanto avançamos nesta árdua tarefa a que chamamos “viver”.

Para conseguirmos adaptar-nos com sucesso é fundamental possuir uma boa flexibilidade mental. É ela que nos permite descobrir dentro de nós as mudanças e os recursos de que necessitamos para superar as dificuldades. Contudo, adaptação não significa acomodação ao gosto e à vontade de terceiros. Ter capacidade de adaptação, ou seja, ter flexibilidade mental, não significa sacrificar a nossa verdadeira natureza e os nossos valores.

O que é então a “flexibilidade” e como se aplica à nossa mente?

No dicionário são apresentadas várias definições como a “capacidade de se adaptar a diferentes situações”, “característica do que é dócil” ou “disponibilidade de espírito”. Mas a flexibilidade é sobretudo identificada como a “qualidade do que é flexível”, do que é “elástico e maleável”.

Os benefícios da flexibilidade no corpo humano são evidentes e conhecidos de todos. A flexibilidade musculoesquelética permite-nos aumentar a amplitude de movimento das articulações e ter uma mobilidade mais solta e leve. E ninguém duvida da importância da flexibilidade para o bem-estar físico, sendo também consensual que pode ser desenvolvida, melhorada e preservada com a atividade física regular.

Aplicada ao carácter humano, flexibilidade significa ter uma mente disponível para se adaptar a diferentes situações e ser capaz de o fazer sem entrar em rutura emocional.

A flexibilidade mental pode ser trabalhada e melhorada?

A abordagem da flexibilidade mental de uma perspetiva adaptativa é bem mais controversa do que a flexibilidade física. A comunicação está cheia de expressões que perpetuam a convicção de que mudar a nossa mente é impossível ou difícil e que pouco ou nada há a fazer para alterar a nossa forma de pensar e de agir.

Toda a gente sabe que “burro velho não aprende línguas”, ouvindo-se também com frequência a justificação de que “sempre fui assim, não é agora que vou mudar” e o famoso ditado que afirma que “quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita”.

Há, portanto, a crença de que nascemos com o cérebro formatado, com traços de personalidade vincados, capazes ou incapazes de algo e que não é possível mudar grande coisa. Abdicamos facilmente do controlo da mente com base nesta crença.

Sistema de crenças e flexibilidade mental

Temos, realmente, características intrínsecas que condicionam o nosso temperamento e as nossas reações.

Há pessoas naturalmente mais dóceis ou agressivas, mais otimistas ou pessimistas, mais generosas ou mais egoístas, mais faladoras ou mais reservadas. Mas quase todas estas características podem ser treinadas para “jogarem a nosso favor”.

O sistema cérebro/mente pode ser ensinado a responder de forma diferente a um determinado estímulo, pode ser “reprogramado” para eliminar ou ajustar as respostas que já não nos são úteis. Embora não seja um processo fácil, todas as mudanças que conduzem a uma melhoria do nosso bem-estar emocional têm um enorme potencial de sucesso.

Se determinada mudança nos vai fazer sentir melhor, seremos capazes de a alcançar treinando regularmente a nossa flexibilidade mental:

  1. refletindo sobre os nossos pensamentos;
  2. observando as ações que esses pensamentos desencadeiam;
  3. analisando o resultado dessas ações nas várias esferas da nossa vida (pessoal, familiar, profissional, , etc.).

Se os resultados que encontramos não nos beneficiam, então está na hora de implementar mudanças.

Treinando uma mente mais flexível

É possível treinarmos a nossa mente para que se torne mais flexível. Com simples hábitos diários, conseguiremos realizar um processo de autoanálise contínuo que nos permitirá:

  • aprender com os erros;
  • melhorar com as críticas;
  • aceitar aquilo que não está ao nosso alcance mudar;
  • tolerar mais facilmente o que nos incomoda;
  • fortalecer a paciência.

Desta forma, treinamos a nossa mente para que fique recetiva a acolher “coisas novas”, a inovar, a experimentar, a mudar de opinião.

Através do processo de autoanálise, que pode ser desenvolvido com a ajuda do life coaching, aprenderemos a conhecer-nos melhor. Ficaremos ainda disponíveis mentalmente para adquirir novas competências que nos permitirão tornar os nossos objetivos de vida mais claros. Com objetivos mais claros, iremos sentir-nos mais capazes para abraçar um novo projeto profissional e deixaremos de reagir precipitadamente. Por fim, não recearemos entrar numa nova relação e mudaremos sempre que o nosso bem-estar estiver em perigo.

Gosto de dizer que “só deixarei de mudar pelo meu bem-estar quando estiver no caixão”. Até lá vou treinando a flexibilidade física e mental que me permitem viver em harmonia.


Autor: Isabel Bolsa


Se determinada mudança nos vai fazer sentir melhor, seremos capazes de a alcançar treinando regularmente a nossa flexibilidade mental.

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